segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Moon of Alabama: Obama quer guerra ('por encomenda') contra a Rússia na Síria

10/10/2015, Moon of Alabama



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Por um momento até pareceu que os EUA estivessem desistindo de 'mudança de regime' por meios violentos na Síria. Sob pressão dos russos, dia 29/9 o secretário de Estado Kerry concedeu que o resultado teria de ser algo não apoiado pelos aliados dos EUA no Golfo e pelos mercenários que lutam por encomenda na guerra da Síria:

EUA e Rússia acertaram "alguns princípios fundamentais" para a Síria, disse o secretário de Estado John Kerry na 3ª-feira, acrescentando que tem planos para voltar a reunir-se com o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na 4ª-feira.

"Chegamos a um acordo, de que a Síria deve ser país unificado, unido, que tem de ser secular, que o ISIL (Islamic State) tem de ser atacado e desarmado e que é preciso uma transição administrada," disse Kerry à rede MSNBC (...).

PORÉM, em vez de começar a trabalhar sobre esse acordo e aprofundar os contatos com os russos, os EUA deslizam agora para guerra total por encomenda contra a Federação Russa e, especialmente, com o contingente de russos que há na Síria. 


Obama havia dito que não seria arrastado para uma guerra à distância com a Rússia, mas seu próprio governo, o Pentágono e a CIA mais uma vez estão fazendo o diabo para conseguir uma guerra contra a Rússia, na Síria. 

O apoio dos russos à Síria não tem prazo para acabar. Agora que o governo dos EUA cede e se deixa arrastar para uma posição em que qualquer guerra com a Rússia na Síria tornou-se prioridade, a luta na Síria e arredores será prolongada para durar muito tempo.

O programa oficial do Pentágono para treinar mercenários na Síria deixará de avaliá-los, selecioná-los, vesti-los, armá-los, treiná-los e apoiá-los. Mas o programa não será extinto. O Pentágono apenas abreviará o processo. Deixa de lado a parte de avaliá-los e selecioná-los e treiná-los e passa a armar e apoiar qualquer um que apareça e declare que deseja "combater o ISIS":


Esse movimento marca uma expansão do envolvimento dos EUA na guerra em solo ampliada na Síria
 e pode expor o governo Obama a riscos ainda maiores, se as armas que passarão a ser entregues a número maior de unidades 'rebeldes' continuarem a cair em mãos de terroristas ou de gama mais ampla de unidades 'rebeldes', ou se os terroristas patrocinados pelos EUA vierem a ser atacados por forças leais ao presidente Assad e seus aliados.

...

Por esse novo plano, líderes de grupos que já combatem o Estado Islâmico passam a ser avaliados, selecionados e reconhecidos e recebem curso ultrarrápido de Direitos Humanos e Comunicações em Combate. Muitos deles já receberam treinamento fora da Síria, disseram funcionários.

Com o tempo, o Pentágono planeja prover munição e armas básicas àqueles líderes combatentes e iniciará ataques aéreos contra alvos identificados por aquelas unidades.

Não há quem não saiba como saem as coisas quando terroristas-mercenários desse tipo passam a identificar alvos para que os aviões dos EUA os ataquem... Assim, exatamente, os EUA destruíram o hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, em ataque que fez cerca de 50 mortos (reza a lenda que os aviões norte-americanos teriam sido chamados por forças especiais do Afeganistão).


Auxílio militar significativo para esses mercenários-terroristas, numa área na qual grupos de terroristas misturam-se com islamistas extremistas, algumas vezes misturados com rebeldes moderados da oposição, sinaliza modificação nos planos e na política inicial dos EUA.

Alto funcionário do governo Obama, que pediu para não ser identificado, não detalhou as características dessa ajuda que deve chegar ao noroeste da Síria. Mas o funcionário disse que "os suprimentos serão entregues a forças anti-ISIL cujos líderes foram adequadamente avaliados e selecionados" – e os descreveu como "grupos de composição diversificada".


Esses grupos diversificados são constituídos precisamente de jihadistas da Frente al-Nusra/al-Qaeda, Ahrar al Shams e outras formações de jihadistas. Ainda que as armas não sejam diretamente entregues a ela, o fato de que a al-Qaeda exige uma "quota" de 1/3 de todas as armas entregues aos seus agentes, e não raras vezes captura 100% delas, mostra que o novo 'programa' dos EUA é programa para armar diretamente a al-Qaeda (embora ninguém o reconheça como tal).


O novo programa é separado de um esforço conduzido pela CIA para ajudar facções rebeldes na Síria. Ainda não se sabe com certeza como o anúncio feito na 6ª-feira pode vir a afetar o programa da CIA.

A CIA mantém programa similar, mas muito maior, desde 2012. Há armas para qualquer pessoa que declare que deseja derrubar o governo da Síria. E muitas daquelas armas já estão em mãos do ISIL/ISIS/Daesch/Estado Islâmico ou da al-Qaeda.


A verdade é que foi a CIA, comandada pelo chefe Brennan (famoso por defender torturas e torturadores), quem empurrou o governo Obama para bem longe das declarações sensatas de Kerry e o pôs diretamente no olho do furacão de uma guerra total à distância, por encomenda, contra a Rússia.

A Rússia já bombardeou alguns dos grupos treinados, armados e pagos pela CIA. Antes, consultou os EUA para que informassem quem bombardear e quem poupar, mas não recebeu resposta. Dado que os mercenários pagos pela CIA para lutar contra o governo sírio são praticamente idênticos e indistinguíveis de qualquer outro terrorista da al-Qaeda ou de outros grupos, todos são alvos legítimos. 

Não é o que a CIA entende. Mas, mesmo assim, a CIA tem considerado bem úteis os ataques dos russos contra os próprios terroristas daCIA:


Relatos indicam que os grupos treinados pela CIA sofreram pequeno número de baixas e foram alertados para evitar movimentos que os exponham aos aviões russos. Um funcionário do governo dos EUA, que conhece bem esse programa da CIA – e que, como todos, pediu para não ser identificado – disse que os ataques galvanizaram algumas das unidades armadas pela Agência. "Agora eles decidiram que querem combater contra os russos" – disse o funcionário. – "A moral melhorou muito".

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Brennan viajou semana passada para o Oriente Médio, quando se intensificaram os ataques russos. Funcionários do governo dos EUA disseram que a viagem estava planejada e nada tem a ver com bombardeios russos, mas reconheceu que todas as discussões centraram-se na Síria.

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A decisão de desmantelar o programa de treinamento do Pentágono – cujas equipes muito pequenas são frequentemente capturadas ou rendem-se a outros grupos rebeldes na Síria – pode obrigar Obama a considerar a possibilidade de aumentar o apoio aos grupos que a CIA apoia.

Funcionários dos EUA disseram que os envolvidos no programa da Agência já estão examinando alternativas que incluem enviar sistemas de foguetes e outras armas que permitiriam aos rebeldes atacar as bases russas, sem contudo entregar-lhes mísseis terra-ar que os grupos terroristas poderiam usar para atingir aviões civis.



TUDO ISSO significa que, em vez de acalmar e buscar cooperar com a Rússia na luta contra o Estado Islâmico, o Pentágono recebeu ordens para cortar o próprio programa e para entregar armas a qualquer um que peça. A CIA está fornecendo maior quantidade de armas aos seus mercenários através dos seus procuradores no Golfo, e está planejando atacar diretamente os russos.

A guerra contra a Síria, e agora também contra a Rússia, provavelmente se arrastará por anos. Com os EUA jogando cada dia mais gasolina à fogueira, a guerra reduzirá a cinzas, além da Síria, também todos os países em volta.



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Dois suicidas-bomba se autodetonaram hoje num comício do partido HDP, simpático à causa dos curdos, em Ancara. Já se calcula em 90 o número de mortos, com mais de 200 feridos. 

Foi o maior ataque terrorista em tempos modernos que a Turquia conheceu. O governo turco desconectou o país da rede Twitter e proibiu qualquer noticiário sobre o ataque terrorista. O partido HDP é partido de esquerda e apoia a luta pacífica pela autonomia do povo curdo. O partido curdo militante PKK na Turquia tem tido escaramuças contra as forças de segurança da Turquia no leste do país. Hoje, o partido anunciou que suspenderá todos os ataques, a menos que seja atacado primeiro. A organização irmã do PKK na Síria, o partido YPK, luta atualmente contra o Estado Islâmico. 

O Partido AKP de Erdogan apoiou o Estado Islâmico e a al-Qaeda na Síria. Erdogan vê o partido HDP e os curdos em geral como seus inimigos. Como disse hoje um político turco não AKPo sangrento incidente hoje em Ancara foi operação da inteligência turca levada a termo, ou foi total fracasso de alguma operação da inteligência turca.

Sejam o que mais tenham sido, as explosões, muito provavelmente de suicidas-bombas do Estado Islâmico, são sinal de crescente desestabilização também na Turquia. E a instabilidade crescerá sem parar, até que haja grande mudança política; até que haja rejeição real e definitiva contra qualquer apoio turco aos jihadistas na Síria; e até que a fronteira turco-síria seja efetivamente fechada e se ponha fim ao trânsito de terroristas.

Hoje, o presidente Putin da Rússia se reunirá com o "jovem líder" saudita, príncipe coroado Mohammed Salman-un. Será que Putin lerá para ele o manual de convivência decente entre povos e recomendará que abandone a posição de vassalagem, como pau mandado dos EUA na guerra contra a Síria? Espera-se que sim. *****

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