segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Terceira semana da intervenção russa na Síria

A volta da diplomacia 
 

25/10/2015, 
The Saker, The Vineyard of the Saker




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O fim da lei internacional e da diplomacia 

O fim da Guerra Fria foi festejado como uma nova era de paz e segurança, quando as espadas seriam convertidas em arados, ex-inimigos em amigos, e o mundo assistiria a uma nova aurora de amor, paz e felicidade universais. Claro, nada disso aconteceu. O que aconteceu foi que o Império Anglo-sionista autoconvenceu-se de que havia "vencido a Guerra Fria" e a partir de então estava no comando. De todo o planeta, nada menos que isso. E por que não? Havia construído por todos os cantos de 700 a 1.000 bases militares (dependendo de sua definição de "base") por todo o mundo, e dividira o globo em várias áreas de exclusiva responsabilidade sua chamadas "comandos". A última potência que havia acumulado em si toda a megalomania necessária para distribuir pedaços do planeta entre dois diferentes 'comandos' foi o Papado, em 1494, com o (mal)afamado "Tratado de Tordesilhas".

Tratado de Tordesilhas
Para deixar esse ponto muitíssimo claro, o Império decidiu usá-lo como exemplo, e disparou todo seu furioso poder contra a pequena Iugoslávia. Iugoslávia, membro fundador do Movimento dos Não Alinhados foi perversamente atacada e desmembrada, criando uma imensa onda de refugiados, a maioria dos quais sérvios, que o mundo democrático e civilizado resolveu ignorar. Mais que isso, o Império inventou outra guerra, daquela vez na Rússia, que pôs o regime semicomatoso de Eltsin contra o que adiante seria parte chave de al-Qaeda, ISIS e Daesh: os wahhabistas na Chechênia. Mais uma vez, muitas centenas de milhares de "refugiados invisíveis" resultaram também daquela guerra, mas também foram praticamente ignorados pelo mundo democrático e civilizado, especialmente os russos étnicos. 

Terroristas wahhabistas da Chechênia
A Rússia precisou de toda uma década para afinal esmagar aquela insurgência Wahhabista-Takfiri , mas, afinal, a Rússia prevaleceu. E àquela altura os anglo-sionistas já haviam mudado a atenção para outro ponto: os "estados profundos" de EUA e Israel planejaram e executaram em conjunto a operação de 'falsa bandeira' conhecida como "o 11/9", que lhes deu a desculpa perfeita para declarar uma "guerra global ao terror" , a qual, basicamente, deu aos anglo-sionistas uma "licença para matar" universal à la 007, exceto que, nesse caso, o alvo não era uma pessoa, mas países inteiros.

Todos nós sabemos o que veio depois: Iraque, Afeganistão, Filipinas, Somália, Etiópia, Sudão, Iêmen, Mali, Paquistão, Síria, Líbia, Ucrânia – em todos os cantos do mundo os EUA estavam em guerra, fosse oficialmente ou clandestinamente. O espectro ia de uma (tentada) completa invasão contra um país (Afeganistão), ao apoio a vários grupos terroristas (Irã, Síria) e ao total financiamento e gestão de um regime nazista (na Ucrânia). Os EUA também deram total apoio aos wahhabistas na longa cruzada deles contra os xiitas (Arábia Saudita, Bahrain, Iêmen, Síria, Irã). O que mais essas guerras tiveram em comum é que todas foram completamente ilegais – os EUA e qualquer "coalizão" ad hoc "de vontades" tornaram-se substitutos aceitáveis do Conselho de Segurança da ONU.


Aqui outra vez é importante relembrar a todos – especialmente aos muçulmanos que se regozijaram com o bombardeio contra os sérvios – que tudo isso começou com a destruição completamente ilegal da Iugoslávia, seguido de bombardeamento ainda mais ilegal da Sérvia.


O disciplinado Exército do Hezbollah, que derrotou Israel em 206

Claro, o Império também sofreu umas poucas derrotas humilhantes: em 2006 o Hezbollah infligiu a Israel o que bem pode ter sido uma das derrotas militares mais humilhantes na história moderna; e em 2008 uma pequena forças de heroicos combatentes ossetianos apoiados por contingente militar russo comparativamente pequeno (só uma pequena parte de militares russos envolveram-se) esmagaram as forças da Geórgia treinadas e pagas pelos EUA: a guerra durou só quatro dias. Mesmo assim, a primeira década do século 21 viu um triunfo da lei da selva sobre a lei internacional e incontestável comprovação do velho princípio bárbara segundo o qual "a força faz a lei".


Logicamente, esses foram também os anos quando a diplomacia dos EUA basicamente deixou de existir. A única função dos diplomatas dos EUA continuou a ser a distribuição de ultimatos do tipo "obedeça, porque se não...", e o Império simplesmente parou de negociar fosse o que fosse. Diplomatas sofisticados e experientes como James Baker foram substituídos ou por psicopatas feito Madelaine Albright, Hillary Clinton e Samantha Power, ou por não entidades medíocres feito John Kerry e Susan Rice. Afinal, o quanto teria de ser sofisticado alguém cuja única missão é distribuir ultimatos? As coisas ficaram tão ruins que os russos abertamente reclamaram da "falta de profissionalismo" de seus contrapartes norte-americanos.


Quanto aos pobres russos e sua patética insistência em que se respeitassem as leis internacionais, pareciam lamentavelmente fora de moda. Nem mencionarei aqui os políticos europeus. Quem mais bem os descreveu foi o prefeito de Londres, Boris Johnson, que os chamou de "supinas lesmas protoplasmáticas invebradas".


Mas então, algo mudou. Dramaticamente.

O fracasso da força


De repente, tudo virou de ponta cabeça. Cada vitória dos EUA de algum modo converteu-se em fracasso: do Afeganistão até a Líbia, cada 'sucesso' dos EUA tinha de algum modo se metamorfoseado em situação na qual a melhor opção, no caso em que houvesse alguma, ou a única restante, era "declarar vitória e escafeder-se". A pergunta óbvia que se impõe é "o que aconteceu"?


A primeira óbvia conclusão é que as forças dos EUA e seus ditos "aliados" tem baixo poder de fixação. São razoavelmente bons para invadir países, mas na sequência rapidamente perdem controle de praticamente tudo. Uma coisa é invadir um país, bem outra é administrá-lo e, isso, sem falar em reconstruí-lo. Fato é que as "coalizões de vontades" que os EUA lideram não conseguem completar serviço nenhum.


Em segundo lugar, tornou-se óbvio que o inimigo que fora supostamente derrotado apenas se recolhera, sumira e esperava melhor ocasião para a vingança. O Iraque é perfeito exemplo disso: longe de ter sido realmente "derrotado", o Exército Iraquiano (sabiamente) optou por de autodesmobilizar e voltar à cena sob a forma de insurreição sunita gigante, que gradualmente se foi convertendo em ISIS. Mas o Iraque não foi caso isolado. O mesmo aconteceu praticamente em todos os cantos.


Há quem diga que os EUA não se importam com se controlam ou se destroem um país, desde que o outro lado não consiga "vencer". Discordo. Sim, os EUA sempre preferirão a destruição de um país a vitória declarada do outro lado, mas isso não significa que os EUA não prefiram controlar um país, se possível. Em outras palavras, quando um país afunda no caos e na violência, não é vitória dos EUA, mas, com absoluta certeza, perda dos EUA.


O que os EUA não veem é que a diplomacia torna o uso da força muito mais efetivo. Primeiro, diplomacia cuidadosa torna possível construir ampla coalizão de países desejosos de apoiar a ação coletiva. Segundo, a diplomacia também torna possível reduzir o número de países que abertamente se opõem à ação coletiva. 


Será que alguém se lembra de que a Síria realmente enviou soldados para apoiar as tropas dos EUA contra Saddam Hussein na [Operação] Tempestade no Deserto? Com certeza não fizeram grande diferença, mas a presença daqueles soldados garantiu aos EUA a certeza de que a Síria, no mínimo, não se oporia à política dos EUA. Ao obter que os sírios apoiassem a [Operação] Tempestade no Deserto, James Baker tornou difícil para os iraquianos argumentar que a coalizão seria anti-árabes, anti-muçulmanos ou, mesmo, anti-baathistas, e pôs Saddam Hussein em posição de claro isolamento (mesmo quando os iraquianos puseram-se a disparar mísseis contra Israel). 


James Addison Baker III, diplomata dos Estados Unidos, foi Secretário de Estado entre 1989 e 1992

Além disso, a diplomacia também permite reduzir a quantidade total de força a ser empregada, porque não é necessário produzir grande número de mortos instantaneamente [orig. "instant overkill"] para que o inimigo convença-se que você não está brincando de guerra. Em terceiro lugar, a diplomacia é a ferramenta necessária para alcançar legitimidade, e legitimidade é crucial, quando se está engajado em conflito longo, demorado.


Por fim, o consenso que emerge de um esforço diplomático bem-sucedido impede a rápida erosão do apoio popular a um esforço militar. Mas todos esses fatores foram ignorados pelos EUA na Guerra Global ao Terror e nas revoluções da "Primavera Árabe" que de repente pararam completamente e escandalosamente.


Triunfo diplomático dos russos 


Essa semana assistiu a um verdadeiro triunfo diplomático da Rússia que culminou nas negociações multilaterais da 6ª-feira em Viena, que reuniram os ministros de Relações Exteriores de Rússia, EUA, Turquia e Arábia Saudita. O fato de essa reunião acontecer imediatamente depois da visita de Assad a Moscou claramente indica que os patrocinadores de Daesh e al-Qaeda estão agora forçados a negociar pelos termos de Moscou. Como aconteceu tal coisa?


Como tenho repetido feito mantra, desde que começou a operação na Síria, a força militar russa realmente deslocada para a Síria é muito pequena. Sim, é força muito efetiva, mas mesmo assim é muito pequena. De fato, os membros da Duma [Parlamento russo] anunciaram que o custo de toda a operação provavelmente caberá no orçamento normal da Defesa da Rússia, que tem valores previstos para "treinamento". Mas o que os russos conseguiram com essa sua pequena intervenção é realmente magnífico, não só em termos militares, mas especialmente em termospolíticos.


Não apenas o Império foi forçado a aceitar (muito relutantemente) que Assad terá de permanecer no governo, pelo menos no futuro que se consegue antever, mas a Rússia está também construindo agora, gradualmente, mas inexoravelmente, uma verdadeira coalizão regional que realmente quer combater o Daesh ao lado das forças do governo sírio. Mesmo antes de a operação russa começar, a Rússia tinha o apoio de Síria, Irã, Iraque e Hezbollah. Há também fortes sinais de que os curdos também estão dispostos a trabalhar com a Rússia e com Assad. Na 6ª-feira foi anunciado que a Jordânia também coordenará algumas ações militares ainda não especificadas com a Rússia, e que se instalará um centro especial de coordenação em Amã. Há também rumores muito fortes de que o Egito também se unirá à coalizão liderada pela Rússia. E, sim, há sinais de que Rússia e Israel também estão, se não trabalhando juntas, pelo menos já não em posições opostas: russos e israelenses criaram uma linha especial para se falarem diretamente, em nível militar. 


Resumo dessa história é o seguinte: independente da sinceridade das partes, todos, na região sentem agora forte pressão para, no mínimo, não se opor ao esforço russo. Só isso, que não é pouco, marca enorme triunfo da diplomacia russa.


Arma secreta de Putin: a verdade 


A situação atual é, claro, totalmente inaceitável para o Hegemon Global: não apenas a coalizão de 62 países liderada pelos EUA fez 22 mil ataques (se não me engano nos números) e nada tem a mostrar; mas a coalizão comparativamente muito menor conseguiu superar amplamente o Império e desmascarar os falsos planos. E a arma mais formidável que Putin usou nessa sua guerra por procuração contra os EUA não foi sequer arma militar: Putin simplesmente fala sempre a verdade.





Nas duas oportunidades, no discurso na ONU e, essa semana, no discurso na Conferência Valdai, Putin fez o que nenhum outro líder mundial jamais se atrevera a fazer: abertamente chama o governo dos EUA de incompetente, irresponsável, mentiroso, hipócrita e doentiamente arrogante. Esse tipo de desmascaramento público teve enorme impacto em todo o mundo, porque, no momento em que Putin fazia todas essas denúncias, mais ou menos todos os cidadãos de todo o mundo sabiam que o que ele dizia é a mais absoluta verdade.


Os EUA tratam os próprios aliados como "vassalos" (discurso Valdai) e os EUA são o principal culpado por toda a terrível crise pela qual passa o mundo hoje (discurso ONU). O que Putin fez foi, basicamente, dizer que "o Imperador está nu". Na comparação, o discurso de Obama soa comicamente patético. 


O que hoje vemos é uma importante virada: depois de décadas marcadas pelo princípio segundo o qual "a força faz a lei" pregado pelos EUA, repentinamente estamos numa situação na qual nem todo o seu poder militar tem qualquer utilidade a um presidente Obama sitiado: que uso podem ter 12 porta-aviões, se o comandante discursa feito um palhaço?


Depois de 1991, parecia que a única superpotência que restava era tão poderosa e impossível de deter, que ninguém mais precisaria se preocupar com coisas desimportantes como diplomacia ou respeito à lei internacional. Tio Sam sentia-se como se fosse o único poder, e para sempre, o Hegemon Planetário. A China não passava de um "bigWalmart", a Rússia, de "posto de gasolina" e a Europa, de poodle-zinho obediente (o item final, infelizmente, é bem verdade). 


O mito da invencibilidade dos EUA nunca passou, claro, de mito: desde a 2ª Guerra Mundial, os EUA jamais venceram uma única guerra real (Grenada ou Panamá não se enquadram na definição). Fato é que os militares norte-americanos deram-se ainda mais mal, no Afeganistão, que o mal-treinado, mal-equipado, mal-nutrido e mal-financiado 40º Exército Soviético, o qual, pelo menos, manteve todas as grandes cidades e principais estradas sob controle dos soviéticos e promoveu significativo desenvolvimento da infraestrutura civil do país (a qual os EUA ainda usam, hoje, em 2015). Mesmo assim, o mito da invencibilidade dos EUA só veio abaixo, mesmo, quando a Rússia, servindo-se de um mix de meios diplomáticos e militares, deu-lhe um basta, em 2013, quando impediu que os EUA assaltassem a Síria. O Tio Sam ficou lívido, mas nada pôde fazer, além de disparar um golpe em Kiev e guerra econômica contra a Rússia, sem que nenhuma das duas ações tenha sido bem-sucedida.


Quanto a Putin, em vez de dar-se por contido pelos muitos esforços dos EUA... convidou Assad a visitá-lo em Moscou.


A visita de Assad a Moscou é mais um indicador da impotência dos EUA


A visita de Assad, essa semana, foi absolutamente extraordinária. Não só os russos conseguiram tirar Assad da Síria e na sequência levá-lo em perfeita segurança de volta para casa, sem que a fracassada comunidade de inteligência dos EUA percebesse coisa alguma, mas também, diferente de muitos chefes de Estado, Assad foi recebido e conversou frente a frente com todos os homens mais poderosos que há na Rússia.




Primeiro, Assad reuniu-se com PutinLavrov e Shoigu. Conversaram, no total, por três horas o que, só a duração da conversa, já é notável). Em seguida, Medvedev chegou, para um jantar privado. 


Mas adivinhem quem apareceu também para o jantar? Mikhail Fradkov, diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia, e Nikolai Patrushev, presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa (imagem: Sentados para jantar, Assad, Patrushev, Fradkov, Lavrov Medvedev, Putin e Shoigu).


Normalmente, chefes de Estado não se encontram pessoalmente com autoridades como Fradkov ou Patrushev (sendo o caso, eles enviam os seus respectivos especialistas). Mas nesse caso o assunto discutido foi importante o bastante para (1) levar Assad pessoalmente ao Kremlin; e (2) pôr em torno da mesma mesa, no Kremlin, todos os mais altos atores do governo russo, para conversa pessoal com Assad.


Obviamente, nem uma palavra vazou dessa reunião, mas há duas principais teorias em circulação sobre o que realmente se disse ali.


A primeira teoria diz que Assad foi informado, em termos bem claros, que acabou e que terá de deixar o governo.


A segunda diz exatamente o oposto: que Assad foi convidado e recebido para deixar perfeitamente claro para ele e para os EUA que o presidente da Síria tem integral apoio da Rússia.


Não acredito que nenhuma dessas teorias corresponda à verdade, mas que a segunda está mais próxima. Afinal, se o objetivo fosse dizer a Assad que ele terá de sair, bastaria um telefonema. Talvez uma visita de Lavrov. Quanto a "apoiar Assad", estaria em direta contradição com o que os russos têm dito sempre: que não apoiam "Assad" como pessoa, embora, sim, o reconheçam como único legítimo presidente da Síria, mas estão apoiando o direito do povo sírio de decidir quem governa a Síria. Até Assad (segundo Putin) concorda com essa ideia. Assim também, Assad já concordou com trabalhar com quaisquer grupos não Daesh da oposição que se disponha a combater contra o Daeshao lado dos militares sírios (outra vez, segundo Putin).


Não. Para mim, a reunião entre Assad e Putin foi, pelo menos em parte, mensagem aos EUA e aos demais chamados "amigos da Síria", indicando que o plano deles de "Assad tem de sair" fracassou. Mas acho que o principal objetivo da conversa com portas fechadas com todas as mais altas autoridades da Rússia era outro.


Meu palpite é que ali se discutiu uma grande aliança, de longo prazo, entre Rússia e Síria, que formalmente reviveria o tipo de aliança que a Síria manteve no passado com a União Soviética. Enquanto só posso especular sobre os exatos termos de aliança desse tipo, meu palpite é que esse plano, provavelmente coordenado pelo Irã, recobre dois principais aspectos:


a) um componente militar: o Daesh tem de ser esmagado; e


b) um componente político: de modo algum se admitirá que a Síria caia sob controle dos EUA.


Considerando que a operação militar russa está prevista, segundo a maioria dos especialistas russos, para durar cerca de três meses, estamos tratando aqui de um plano separado, de médio a longo prazo, que exigirá que as forças armadas sírias sejam reconstruídas, enquanto Rússia, Irã e Iraque conjuntamente coordenam a luta contra o Daesh. E, sim, foi anunciado na 6ª-feira que o Iraque autorizou os militares russos a atacar o Daesh dentro do território iraquiano


Não há dúvidas de que tudo indica que a operação russa serviu como catalisadora, numa região paralisada pela hipocrisia e pela incompetência dos EUA; e que os dias do Daesh estão contados.


Cedo demais para celebrar, mas mesmo assim momento avassalador, de definições


Sim, é ainda muito cedo para celebrar. Os russos não podem fazer tudo isso sozinhos, e muito caberá aos sírios e seus aliados, da luta contra o Daesh, a ser derrotado cidade a cidade. Só coturnos em solo realmente livrarão a Síria dos bandidos do Daesh. E só o verdadeiro Islã conseguirá derrotar a ideologia Takfiri. E isso exigirá tempo.


Além do mais, seria irresponsabilidade subestimar a determinação do Império e sua capacidade para impedir que a Rússia ganhe ares de "a vencedora" – aí está algo com o que o ego imperial, envenenado por séculos de húbris imperial e ignorância, nunca saberá lidar. Afinal, como a "nação indispensável" aceitará que o mundo já não precisa dela, e que muitos já podem opor-se a ela e sair por cima? Deve-se esperar que os EUA usem todo o seu (ainda imenso) poder, para quebrar e sabotar toda e qualquer iniciativa russa ou síria.


Mesmo assim, os eventos recentes são marca de que a era de "a força faz a lei" chegou ao fim, e de que a noção de que os EUA seriam "nação indispensável" ou hegemon mundial perdeu toda a credibilidade. Depois de décadas na obscuridade, a diplomacia e a lei internacional voltaram a ser relevantes. 


Minha esperança é que estejamos no início de um processo, ao longo do qual os EUA passarão pela mesma transformação pela qual tantos outros países (inclusive a Rússia) passaram: depois de se terem sido império, voltarem a ser "país normal". Desgraçadamente, quando observo a corrida presidencial para 2016, tenho a sensação de que esse pode ser processo muito longo.


[assina] The Saker