27/10/2015, Pavel Shipilin, Fort Russ
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
O gasoduto "Nord stream-2" [Ramo Norte 2] finalmente fará da Alemanha o principal parceiro da Gazprom russa na Europa. Ucrânia, Polônia e os estados do Báltico, inspirados na luta pela independência frente ao gás russo, recusaram voluntariamente aquele papel.
Outro dia, Kiev recebeu a explicação de por que o novo gasoduto russo sob o Mar Báltico será implementado, apesar de Kiev opor-se tanto: "Quando dizemos que não seria projeto econômico, mas puramente projeto político que teria como alvo a Ucrânia, todos esquecemos que o projeto envolve empresas europeias. A Gazprom tem só 51%" – disse à European Truth uma fonte na Comissão Europeia envolvida nas negociações com a "Gazprom".
Em outras palavras, cada vez que se falar que Moscou está castigando Kiev com o porrete do gás, que todos lembrem que Londres (Shell), Amsterdã (Shell), Berlim (E. ON, BASF/Wintershall), Paris (ENGIE) e Viena (OMV) são cúmplices no mesmo espancamento.
Além do mais, a fonte do jornal online sugeriu que Kiev não seria vista com muita simpatia entre os principais países da UE. A causa disso seria a real falência da "Naftogaz". E parceiro falido, numa mesma rota de trânsito, é parceiro pouco confiável – motivo pelo qual a Rússia encontra tão significativo apoio na Europa.
"Nord stream-2" tem apoios na associação Eurogas, que reúne 44 empresas de gás da Europa. "Por estranho que pareça, entregas diretas de gás, da Rússia à Alemanha pelo fundo do Mar Báltico não contradizem a política comum de energia da União Europeia e, sim, a apoiam. O gás que chega à Europa contornando Ucrânia, Bielorrússia e outros países chega à Alemanha – país com alta competência, mercado livre. O gás pode ser fornecido a preços competitivos, inclusive à Europa Oriental" – disse recentemente o presidente da Eurogas, Gertjan Lankhorst.
Enquanto isso, a Europa Oriental, imersa na luta contra a "Gazprom", acabou presa num verdadeiro laço de servidão, aos produtores de gás natural liquefeito.
A Lituânia, que há um ano adquiriu um terminal móvel para gás natural liquefeito para [o porto de] Klaipeda, surpreendeu-se ao descobrir que o gás que vem da Noruega é 1,5 vezes mais caro que o russo. E até tentou ajustar suas obrigações contratuais. Ainda mais surpresos ficaram os poloneses, que também compraram terminal para gás natural liquefeito –, ao verificar que o preço do gás que vem do Qatar é duas vezes superior ao da odiada "Gazprom". Esses dois países têm contratos por 20 anos, que incluem o princípio "pegue ou pague".
Recentemente foi assinado um contrato para construção de um gasoduto entre Polônia e Lituânia. A Comissão Europeia anunciou que seria obra prioritária e alocou 300 milhões de euros. Presumivelmente, em poucos anos Polônia e Lituânia terão oportunidade de vender uma à outra os excedentes daquele gás caríssimo. O que estão tentando provar ao mundo é, para mim, impenetrável mistério.
Mas agora a "Gazprom" recebeu um bom argumento a seu favor, no litígio sobre preço injusto. Eles podem, sim, pagar! E até muito mais do que à Rússia.
Aplica-se, certamente, também à Ucrânia. Se Kiev está pronta a comprar gás reverso e pagar preço mais alto, evidentemente o argumento sobre o preço 'caro' cobrado pela "Gazprom" perde o sentido.
Simultaneamente, a implementação do gasoduto "Nord stream-2" começa a tomar formas tangíveis. O grupo italiano "Intesa Sanpaolo" já manifestou interesse em participar no financiamento do projeto e na questão seguinte dos Eurobônus da "Gazprom". O grupo já tem experiência com os seguros do monopólio russo. "O últimos 1 bilhão de euros emitidos desapareceram instantaneamente, num segundo, com a demanda correspondendo ao dobro da quantidade de Eurobônus", – disse a RIA Novosti o presidente do Conselho de Diretores do grupo "Banca Intesa", Antonio Falicco.
O presidente da Eurogas entende que é erro converter a questão do gás em tema político. Avaliando novos projetos para transportar gás russo para a Europa, é preciso pensar, sobretudo, que é significativo investimento na infraestrutura do Velho Mundo, não que se trata de reforçar o poder russo no mercado do "combustível azul". Gertjan Lankhorst não concorda com os que entendem que a "Gazprom" seria um monopólio dado que apenas alguns poucos países na Europa dependem desse gás.
É pouco provável que Ucrânia ou os países Bálticos ouçam a opinião de especialistas que sabem contar dinheiro e não auferem dividendos políticos a cada declaração altissonante. Afinal, a luta contra a "Gazprom" é tãããão emocionante (e tão distanciada da economia real).
Depois de 2019, depois de encerradas as solenidades do funeral das grandes potências de trânsito [de gás], todas terão de optar entre comprar gás na Alemanha ou na Rússia. Na Rússia, claro, o gás será mais caro. Mas não é impossível que a mesma Polônia prefira o gás russo, vindo do ocidente, não do oriente. Ser independente do bom senso não sai barato.
A Rússia não está preocupada. Nos dois casos, receberemos nosso dinheiro.*****
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