quarta-feira, 31 de maio de 2017

The Saker: Trump no Titanic dançando com lobos

26.05.2017, The Saker - The Vineyard of the Saker



tradução de btpsilveira







Robert Fisk foi preciso: “
Trump está prestes a bagunçar tudo no Oriente Médio”. Na sequência de sua decisão monumentalmente estúpida de atacar o exército da Síria com mísseis de cruzeiro, ou Trump ou (devo dizer) as pessoas que tomam as decisões por ele, provavelmente já entenderam que é “fim de jogo” para qualquer política que tenha a ver com os Estados Unidos no Oriente Médio e assim eles fizeram a única coisa que podiam: correr para os braços daqueles que estão felizes com a agressão contra a Síria: os sauditas e os israelenses. Não é preciso dizer que tais “aliados”, que atualmente representam um simulacro de “política externa dos EUA” no Oriente Médio só poderão causar situações que vão do ruim para o péssimo.
De muitas maneiras, Israel e Arábia Saudita são ímpares: ambos estão entre os principais financiadores e apoiadores do terrorismo, ambos estão profundamente embebidos de ideologias que só podem ser classificadas como bárbaras (Wahabismo e Supremacia Judaica) e ambos estão armados até os dentes. Porém eles têm mais uma coisa em comum: apesar de, ou talvez por causa de, seus imensos orçamentos militares, essas nações são na realidade militarmente fracas. Claro, elas têm montes de equipamento militar sofisticado, e gostam de exibir sua força surrando alguns “inimigos” indefesos, mas basta deixar a propaganda de lado e você vai entender que os sauditas sequer conseguem lidar com os Houtis no Iêmen, enquanto os israelenses foram completamente derrotados pelas forças de segunda linha do Hezbollah em 2006 (as forças principais do Hezbollah ficaram concentradas ao longo do Rio Litani e nunca entraram em combate direto): nem todo o efetivo da Brigada do Golã pode conquistar Bint Jubeil, embora essa pequena cidade esteja a apenas 3 km da fronteira israelense. É por isso que tanto sauditas quanto israelenses tentam limitar seus ataques a bombardeios aéreos: porque no solo eles simplesmente apanham. Outra similaridade entre eles: os sauditas se tornaram experts em aterrorizar xiitas indefesos (no Barein ou na própria Arábia Saudita), enquanto os israelenses se tornaram mestres em aterrorizar civis palestinos.


Agora que Trump está se juntando oficialmente a essa aliança desagradável, os Estados Unidos poderão colaborar com a “competência” de um país que sequer foi capaz de tomar Mosul, principalmente porque suas forças ficam o tempo todo escondidas atrás de curdos e árabes iraquianos. Pensar que esses três sejam capazes de desafiar e lidar com iranianos, russos e o Hezbollah seria cômico se não fosse a tragédia do derramamento de sangue que pode causar.

Infelizmente, vendo o que os sauditas estão fazendo no Iêmen e o que os israelenses estão fazendo em Gaza ou no Líbano, da mesma forma que os EUA no Iraque, você imediatamente perceberá o que a formação dessa aliança nefasta poderá significar para a população da Síria e do resto da região. A história mostra que um exército pode até não ter capacidade de lutar uma guerra de verdade, mas sempre terá a capacidade de matar pessoas. Pense na trágica ocupação do Iraque pelo exército dos EUA. Mesmo sendo um desastre em termos militares, resultou em quase um milhão e meio de pessoas mortas.

O que se torna cada vez mais claro é o alvo verdadeiro dessa aliança maligna: o Irã, a única democracia real no Oriente Médio. Pretexto? Que mais? Armas de destruição em massa, claro: aquelas armas químicas (que não existem) na Síria e as armas nucleares (que também não existem) dos iranianos. Nas palavras de Trump: 

“nenhuma nação civilizada pode tolerar o massacre de inocentes com armas químicas” “os Estados Unidos estão firmemente comprometidos a impedir o Irã de desenvolver uma arma nuclear e interromper seu apoio a terroristas e milícias que estão causando tanto sofrimento e caos através do Oriente Médio”. 

Até aqui, nada de novo. Mas como essa aliança maligna lutará se não tem tropas no terreno? Mais uma vez, a solução é tão simples quanto velha: usar os loucos takfiri do Estado Islâmico/Al Qaeda como bucha de canhão para os Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita. Trata-se de uma versão reajustada do plano “brilhante” de Brzezinski sobre como lutar contra os soviéticos no Afeganistão. Em verdade, de volta para o futuro. E se por algum milagre os “terroristas do bem” vencerem na Síria, então soltá-los a seguir no Líbano contra o Hezbollah e contra os xiitas no Iraque e no Irã. Quem sabe? Talvez, com um pouco de sorte (muita), o império poderia até ser capaz de refundar o “Emirado Caucasiano” em algum lugar das fronteiras ao sul da Rússia. Certo?

Errado.

Principalmente porque as supostas vítimas não estão impressionadas. Veja o que diz sobre a questão o secretário geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah:

 “Os israelenses estão apostando no seu projeto com o Estado Islâmico e os takfiris na região... mas em qualquer caso eles sabem, os israelenses e os americanos, e todos aqueles que usam os takfiris, que este é um projeto sem futuro. Digo a vocês e reasseguro nesta entrevista: este projeto não tem futuro.”

E com certeza ele tem razão. O recém reeleito presidente do Irã, Hassan Rouhani disse abertamente que os norte-americanos estão sendo ingênuos:

O problema é que os norteamericanos não conhecem nossa região e estão sendo enganados por aqueles que os aconselham.

É muito claro quem são tais “conselheiros”: os sauditas e os israelenses. A intenção deles também é transparente: fazer os norteamericanos ficarem com o trabalho sujo enquanto se mantém o mais longe possível da sujeira. Você pode dizer que os sauditas e israelenses estão tentando fazer com os norteamericanos o que estes tentam fazer com os curdos no Iraque: ser a sua bucha de canhão. A grande diferença é que os curdos ao menos sabem exatamente para onde estão indo e o que está acontecendo, enquanto os norteamericanos são mesmo ingênuos.

Claro que nem todos os norteamericanos. Muitos entendem perfeitamente o que está acontecendo. Um bom exemplo dessa consciência aguda é o que “b” (na realidade, “b” é alemão – NT) tinha a dizer no site Moon of Alabama depois de ler a transcrição da conferência de imprensa do Secretário de Defesa Mattis, do General Dunford e do Enviado Especial McGurk sobre a campanha para derrotar o Estado Islâmico:

Minha primeira reação depois de ler isso foi: “estas pessoas vivem em um mundo diferente. Não tem a menor ideia do mundo real no terreno. O que pensam as pessoas reais, e com que se parecem”. Não há nenhum pensamento estratégico visível e foram apresentadas apenas algumas ideias táticas imperfeitas.

Um prestigiado repórter britânico, o Secretário Geral do Hezbollah, o Presidente do Irã e um blogueiro que é considerado um observador astuto da cena mundial, todos concordam numa coisa: não há uma “política” verdadeira dos Estados Unidos funcionando, o que se vê é um perigoso exercício de uma suposta estratégia que não pode dar outro resultado senão o caos e a derrota.

Então por que a administração Trump segue em frente com essa loucura?

As razões são parecidas com uma combinação da política interna dos Estados Unidos com um caso em que “todas as coisas se parecem com pregos se tudo o que você tem é um martelo” (Lei do Instrumento ou Lei do Martelo – NT). A revolução colorida/golpe de estado contra Trump desfechada pelos neocons do Estado Profundo antes mesmo que Trump assumisse a Casa Branca nunca parou realmente e todos os sinais são de que as forças que querem abater Trump só descansarão quando este sofrer o impeachment e seja, talvez, removido do poder. Tudo o que Trump pode fazer inicialmente como resposta a esses ataques foi o sacrifício de seus mais próximos amigos e aliados (Flynn, Bannon), na vã esperança de que isso poderia apaziguar os neocons. Então ele começou a endossar impensadamente as “políticas” dos neocons. Previsivelmente, também não funcionou. Daí chegou a aventar a ideia de ter Joe Lieberman como diretor do FBI antes de ser tomado de dúvidas e mudar de posição mais uma vez. Entretanto, enquanto está tentando desesperadamente apaziguá-los os neocons estão dobrando a aposta, dobrando de novo e dobrando outra vez. Está cada vez mais claro que Trump já não tem nem os aliados nem a coragem pessoal necessários para derrotar e drenar o pântano como havia prometido. Como resultado de todo este panorama, o que estamos vendo parece uma repetição dos dois últimos anos da administração Obama: uma falta total de visão ou mesmo de políticas gerais, caos no executivo e uma política externa caracterizada por uma desordem de múltipla personalidade na qual se vê o Pentágono, o Departamento de Estado, a CIA e a Casa Branca todos perseguindo atabalhoadamente seus próprios objetivos, através de políticas desencontradas. Por sua vez, cada um desses atores está empenhado no que (pensam eles) fazem melhor: o Pentágono bombardeia, o Departamento de Estado finge negociar, a CIA se esforça em mais e mais operações encobertas de terroristas “mais ou menos bons” enquanto a Casa Branca está focada nos esforços de tentar fazer com que o presidente pareça bem, ou ao menos, controlando alguma coisa.

Verdade seja dita: Trump nada tem a mostrar até agora:
Rússia: de acordo com os rumores espalhados pelas corporações dos Estados Unidos, Rex Tillerson supostamente estaria viajando até Moscou para entregar um ultimato. Graças a Deus isso não aconteceu. Em vez disso, Tillerson gastou várias horas falando com Lavrov e depois maus algumas falando com Putin. Mais recentemente, Lavrov foi recebido por Tillerson nos Estados Unidos e na sequência deste encontro, ele também se encontrou com Trump. Nada de concreto que resultasse desses encontros foi anunciado. O que isso significa? Que de nada valeram os encontros? De modo algum. O que se obteve é que os russos transmitiram claramente aos norteamericanos duas coisas básicas: primeiro, que não estão impressionados com os tambores de guerra e segundo, que enquanto os Estados Unidos estiverem agindo como um elefante enlouquecido em uma loja de louças, nada há que possa ser discutido. Que se reconheça que Trump aparentemente voltou atrás e até mesmo tentou fazer algumas declarações conciliatórias. Desnecessário dizer que a mídia sionista o crucificou por ter sido “muito amigável” com O Inimigo. Claro que o resultado até agora é bem melhor que uma guerra contra a Rússia, mas nem chega perto dos avanços que Trump prometeu (e creio que sinceramente esperava poder fazer) durante a sua campanha eleitoral.

Coreia do Norte/Coreia do Sul: aconteceu o que tinha mesmo que acontecer: todos os tambores de guerra, a reunião de três porta aviões com seus grupos de ataque acabaram se tornando um enorme fiasco com o qual nem a Coreia do norte nem os chineses ficaram minimamente impressionados. Quando muito, essa grande exibição de equipamento do tempo da guerra fria foi corretamente interpretado não como sinal de força e sim de fraqueza. Trump perdeu um bocado de tempo e dinheiro sem absolutamente nada para mostrar em troca. A Coreia do Norte testou mais um míssil de alcance médio ontem. Dizem que com sucesso.

Ucrânia: parece que Trump simplesmente não se importa com a Ucrânia, e francamente, não dá para culpá-lo. Nesse instante a situação daquele país é tão ruim que nenhum poder externo tem forças para influenciar significativamente as coisas por aquelas cercanias. Poderíamos mesmo admitir que Trump fez o correto, considerando as circunstâncias, ao entregar as coisas nas mãos de Merkel e da União Europeia na base de “toma que o filho é teu”: eles que lidem com o problema sangrento que criaram, porque, em princípio, o problema é mesmo deles. É Carma.

Assim, no geral, Trump tem exatamente zero para mostrar no campo da política externa. Fez um monte de declarações tonitruantes que foram seguidas de muitas ameaças, mas no fim do dia parece que alguém se aproximou e sussurrou: “não podemos fazer nada disso, senhor presidente” (e graças a Deus por esse herói anônimo!). Uma vez que a realidade começou a se impor, tornou-se necessário criar ao menos uma ilusão de política externa, na qual os Estados Unidos ainda são uma suposta superpotência que supostamente ainda pode determinar o resultado de qualquer conflito. Levando em consideração que o Império AlgloSionista é, antes de qualquer coisa, o que Chris Hedges chama de Império das Ilusões”, só assim pode fazer sentido que seu presidente esteja focado na criação de espetáculos e oportunidades para boas fotografias. Infortunadamente, a Casa Branca é tão ingênua que acaba trocando os pés pelas mãos, mesmo quando em confraternização com um aliado próximo. Nós fomos testemunhas, durante a recente viagem à Arábia Saudita, que Melania e Ivanka Trump se recusaram a cobrir suas cabeças em Riad, e no entanto fizeram exatamente isso quando visitaram o Papa no Vaticano. Como disse um francês, “foi muito pior que um crime, foi uma besteira” que significa mais que milhões de palavras sobre o desprezo que sente a elite norteamericana pelo mundo muçulmano.

Há outros sinais de que os Estados Unidos estão mesmo raspando o fundo da panela: Rex Tillerson agora está declarando que “a OTAN deveria se juntar formalmente à coalisão contra o Estado Islâmico”. Em termos militares, a OTAN é pior que imprestável para os Estados Unidos: os norteamericanos se saem muito melhor lutando sozinhos que envolvendo um enorme número de “exércitos de mentirinha” que mal poderão proteger a si mesmos no caso de se engajarem em uma batalha real. Claro que se pode, com algum esforço, obter metade de um batalhão decente aqui, até mesmo um regimento ali, mas no geral, as forças da OTAN são inúteis, especialmente para operações no solo. Eles, exatamente como os sauditas e os israelenses, preferem atacar a partir do ar, de preferência com a proteção dos AWACS dos EUA, e nunca experimentaram o tipo de combate selvagem de infantaria que está acontecendo na Síria. Com todos os seus problemas e falhas, ao menos os norteamericanos têm certo número de unidades capazes para combate real, como os Marines e algumas unidades do exército, as quais são experientes e muito capazes de fazer os takfiris suarem sangue para merecer o seu dinheiro. Mas os europeus? Esqueça!

É realmente patético observar os esforços desesperados da administração Trump para criar algum tipo de coalizão que seja ao menos razoavelmente factível, enquanto tentam com esforço inaudito evitar a admissão do simples fato de que aqueles que podem contar com grande número de unidade de combate competentes para lutar contra o Estado Islâmico são os Iranianos, o Hezbollah e potencialmente, os russos. É este o motivo pelo qual ao recém eleito presidente iraniano Rouhani declarou recentemente:

 “Quem foi que lutou contra os terroristas? Foram o Irã, a Síria, o Hezbollah e a Rússia. Mas quem financiou os terroristas? Aqueles que financiaram os terroristas jamais podem dizer que estão lutando contra eles” e que “Quem pode dizer que pode restaurar a estabilidade na região sem o Irã? Quem pode dizer que haverá estabilidade total na região sem o Irã?”

Na realidade, nem mesmo os turcos e os curdos são realmente capazes de derrotar o Estado Islâmico na Síria. Mas o pior erro dos generais dos EUA é que eles estão fingindo que uma grande e experiente infantaria como o Estado Islâmico/Al Qaeda pode ser derrotada sem uma forte ofensiva terrestre. Não vai acontecer. Desta forma, Trump pode dançar quanto quiser com os sauditas e ficar um tempão batendo a cabeça no Muro das Lamentações, que seus esforços para determinar o resultado da guerra na Síria falharão inevitavelmente: longe de ser uma superpotência, no Oriente Médio especificamente os Estados Unidos estão se tornando irrelevantes.

Por isso mesmo a Rússia, o Irã e a Turquia estão neste momento tentando criar um quadro trilateral “livre dos EUA” no esforço de mudar as condições no terreno. O que os Estados Unidos ainda são capazes de fazer é sabotar esses esforços e prolongar desnecessariamente a carnificina na Síria e no Iraque. Patético e profundamente imoral.

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Quando vi Trump dançando com seus amiguinhos sauditas imediatamente me lembrei do filme “Dança com Lobos” e “Titanic”. Impérios sempre terminam em violência e caos, mas Trump aparentemente decidiu adicionar uma boa dose de ridículo à mistura. A tragédia está no fato de que nem os Estados Unidos nem o resto do planeta podem se dar ao luxo desse tipo de ridículo agora, especialmente não o tipo de ridículo que pode rapidamente se materializar em uma orgia de violência. Com os Estados Europeus paralisados em um estupor subserviente à gangue dos Rothschild, a América Latina devastada por crises (a maioria instigada pelos EUA) e o resto do planeta tentando se manter longe do império cambaleante, o peso das tentativas de manter esse trem desgovernado na linha recai sobre a Rússia e a China.

Quanto a Trump, fez um pequeno discurso aos líderes da OTAN hoje. Falou sobre “as ameaças da Rússia e sobre as fronteiras leste e sul da OTAN”. Q. E. D.








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