Uma parábola sobre o "novo normal geopolítico"
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
A parábola mostra alguém que interage muito intimamente com seletos Masters of the Universe. Por causa de seus negócios, ele não tem dúvida alguma de que identificou o modo como está sendo jogado o atual jogo geopolítico de apostas muito altas. E tanto identificou, que até escreveu uma cartinha ao Banco do Povo da China [ing. People’s Bank of China (PBOC) em Pequim, expondo suas apreensões.
Nosso homem na parábola diz ter acesso a informação privilegiada que confirma que o que acaba de acontecer com as ações chinesas envolveu manipulação de mercados por Wall Street e uns poucos seletos hedge funds para interromper gravemente a parceria estratégica Rússia-China – e consequentemente destruir a tentativa de organizar a massa terrestre eurasiana numa e coerente união econômica.
Refere-se, é claro, à interpenetração das Novas Rotas da Seda puxadas pelos chineses, o "Um Cinturão, Uma Rota", como o projeto é conhecido na China, e a União Econômica Eurasiana puxada pela Rússia.
Em sua carta ao Banco do Povo da China, o homem lembra o pessoal lá de coisas que eles já sabem: como o PIB da China foi multiplicado por seis em 15 anos, de 2000 a 2015. E de como "Um Cinturão, Uma Rota" pode levar a aumento de três a seis vezes no PIB nos próximos 15 anos. O ponto de suspense na narrativa, para segurar a atenção do público: isso, exatamente, é o que os EUA querem impedir, indiretamente, que aconteça.
O homem lembrou o Banco do Povo da China de como Washington/Wall Street derrubaram o preço do petróleo com o acerto entre compradores seletos e a cooperação das petromonarquias do Golfo Persa, que inundaram o mercado, com o quê fizeram cair o preço do petróleo. E de como esse processo fez pressão terrível sobre Moscou.
Mas agora está em andamento grande negociação entre Moscou e a Casa de Saud, com vistas a chegar a um acordo quanto à Síria. Eventual sucesso nessa empreitada, implicaria mudança na deriva geopolítica das petromonarquias do Golfo Persa, que passariam a deslocar-se em direção a Moscou e Pequim, e para longe de Washington.
O novo empório eurasiano nesse caso passaria a ter acesso direto a quase metade de toda a oferta de petróleo do mundo, na Rússia, Ásia Central e Oriente Médio.
Ouçam na escuridão a fúria de MacArthur
O Irã, enquanto isso, vai firmando sua parceria estratégica com a China.
O diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, esteve em Pequim, para expandir a cooperação nuclear civil. Inclui-se aí reprojetar o reator iraniano de água pesada de Arak e construir vários pequenos reatores nucleares ACP100. O ACP100, projeto chinês, é um reator modulado, para multifinalidades.
E o Banco de Desenvolvimento de Exportações do Irã está bem próximo de passar a cooperar com o Banco da China, no financiamento de vários projetos iranianos.
Nosso homem na parábola tem certeza de que, se os Masters of the Universe são hoje bem capazes de conseguir rachar a massa de terra eurasiana – o que inclui atrair o Irã para longe das duas, Rússia e Chinaa –, é porque conseguiram jogar a Alemanha e a UE-OTAN contra a Rússia; e o Japão contra a China.
Essa é a razão pela qual os Masters of the Universe permitiram a depreciação de 68% do yen: para causar dano à China e promover o Japão. Assim se explica por que tanto gritaram quando o yuan chinês foi levemente depreciado nos últimos dias, mas se mostraram entusiasmadíssimos com o 'alívio quantitativo' no Japão.
Nosso homem da parábola acrescentou que o agitar de sabres a propósito do Mar do Sul da China foi concebido para acrescentar ainda mais pressão sobre a China. Aqueles rochedos foram estrategicamente importantes para os EUA, nos idos do general MacArthur, para ampliar para fora o perímetro da defesa norte-americana.
Porém, os mísseis balísticos intercontinentais (ing. ICBMs) chineses – a mais nova geração dos quais será apresentada ao mundo essa semana no desfile militar de celebração dos 70 anos do fim da 2ªGuerra Mundial no Pacífico Asiático – mudam o jogo, assim como também o mudam os submarinos silenciosos indetectáveis que transportam mísseis armados com ogivas nucleares. Aquelas ilhas de mar aberto tornaram-se insignificantes para a defesa da pátria-mãe dos norte-americanos.
Nosso homem da parábola sabe muito bem que os chineses sabem disso tudo: como uma economia que vinha crescendo 7% no último trimestre pode, de repente, ter de enfrentar o Armagedon.
Assim sendo, o homem da parábola conclui que o real fundamento, o objetivo básico sobre o qual repousa a estratégia dos Masters of the Universe, é semelhante ao que Churchill fez de justificativa para a 1ª Guerra Mundial: destruir a Alemanha como concorrente industrial.
O mesmo se aplicou ao Japão. Quando o sol nasceu e já crescia alto demais no horizonte, Washington ordenou que o Banco Central Japonês se contraísse; e assim o Japão passou 20 anos praticamente sem crescimento algum. Na sequência, o neoliberalismo apostou todas as suas fichas na China. E se a China ficou grande demais, nesse caso as asas chinesas terão necessariamente se ser grampeadas.
E isso, precisamente, é o que nosso homem da parábola vê em processo, hoje.
Aí está a parábola de um player empoleirado em posição privilegiada em Gotham City, mas suficientemente preocupado a ponto de escrever ao Banco do Povo da China para dar-lhe a conhecer seus temores geopolíticos. Não se sabe se ou como o Banco do Povo da China responderá a carta.
O que é certo é que não terão como discordar do modo como a parábola termina: com o "magnífico" plano de integração eurasiana a correr a pleno vapor – melhor dizendo: a correr sobre trilhos de alta velocidade – sempre à frente. *****
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