quinta-feira, 2 de agosto de 2018

DOCUMENTO – Entrevista (íntegra): Ministro de Defesa da Rússia, Gen. Sergei Shoigu*

11/7/2018, Il Giornale (it.), TVZvesda (ru.), The Vineyard of the Saker,** (1ª. parte já publicada: Blog do Alok)


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu





[Continuação]

Alessandra Benignetti, entrevistadora (AB): Da guerra na Síria, à guerra comercial. Se o nível das relações com Washington chegou ao ponto mais baixo de todos os tempos, as relações com a China fortalecem-se cada dia mais... 

General Shoigu: É claro, a tensão nas relações internacionais contribuiu para fortalecer as relações entre Rússia e China, que são baseadas em respeito e confiança mútua. Rússia e China mantêm relações estratégicas e amistosas de longo prazo, e a cooperação está se desenvolvendo em muitas áreas, inclusive mediante agências militares, o que interessa aos dois estados

Exemplos de nossa cooperação incluem treinamento bilateral conjunto das forças armadas de nossos estados, inclusive o exercício naval anual "Cooperação no Mar", e uma série de exercícios das marinhas russa e chinesa, exercícios anuais, com mísseis de defesa antimísseis, chamados "Segurança do Aeroespaço" [ing. Aerospace Security].

Mantemos exercícios militares multinacionais de exército e frotas dos países membros da Organização de Cooperação de Xangai, exercício chamados "Missão de Paz". Além disso, representantes chineses participam da competição anual promovida pelo Ministério da Defesa da Rússia, chamados "Jogos do Exército". Hoje, cerca de 12% das armas russas são exportadas para a China.

Ao mesmo tempo, nossas atividades conjuntas nessa área, em contraste com os exercício conduzidos pela OTAN e pela União Europeia na Europa, têm natureza exclusivamente defensiva. Nossas parcerias militares não são orientadas contra outros países ou blocos e servem exclusivamente para fortalecer a segurança global e regional.

AB: O que o senhor pensa sobre o desenvolvimento da situação na Coreia do Norte?

General Shoigu: Rússia e Coreia do Norte assinaram vários acordos no campo da cooperação técnico-militar, cuja implementação está suspensa no contexto da consideração, pela Federação Russa, das resoluções 1.718 e 1.874 do Conselho de Segurança da ONU.

Atualmente estamos assistindo a uma significativa redução das tensões entre o norte e o sul da Península Coreana. Cremos que essa tendência positiva é estável e irreversível.

AB: E quanto à Ucrânia: o senhor acha que será possível descobrir uma solução para o atual conflito no sudeste do país?

General Shoigu: Só a implementação incondicional, por Kiev, dos Acordos de Minsk pode impedir que a situação evolua para o genocídio da população russa. Infelizmente, Kiev recusa-se obstinadamente a cumprir o acordo, a partir de pretextos e desculpas muito frágeis e com repetidas acusações sem provas contra a Rússia.

Ao mesmo tempo, Kiev rejeita até a possibilidade de qualquer diálogo com Donetsk e Lugansk, e sem diálogo é simplesmente impossível resolver essa crise. Claro que nosso país responde a esses desenvolvimentos, não nos cansamos de insistir com Kiev para que implemente o pacote de medidas que foram acertadas em Minsk.

Esperamos que os países europeus, em primeiro lugar os membros do formato "Normandia", [que inclui Alemanha, França, Rússia e Ucrânia] consigam fazer valer toda a influência que têm sobre as autoridades ucranianas, para que se alcance solução pacífica, negociada, para esse conflito interno no sudeste da Ucrânia.

Creio que seja impossível um confronto direto entre Ucrânia e Rússia. Nossos países têm raízes comuns, durante séculos enfrentamos juntos todas as dificuldades e lutamos lado a lado por nossa liberdade e independência na 2ª Guerra Mundial. Parentes da família de minha mãe viviam na Ucrânia. Fui batizado numa pequena igreja em Stakhanov, cidade da região de Lugansk, na Ucrânia. Tenho confiança de que jamais haverá espaço para confrontação ou hostilidade entre nossos povos, dada nossa história comum. [Fim da entrevista]*******



* Sergey Kuzhugetovich Shoigu, 62 anos, é general de Exército e desde 2012 é ministro da Defesa da Rússia. É nascido na remota República da Tuva, na Sibéria, cuja população é praticante de um xamanismo animista e do budismo tibetano – o que várias vezes gerou comentários venenosos no 'ocidente', contra o ministro russo.

Interessante, sobre Shoigu e religiões, lê-se em "Hoje aconteceu algo extraordinário" (13/5/2015, The Saker, traduzido em Redecastorphoto), em artigo sobre o Desfile da Vitória, em Moscou:


"O dia de hoje passará à memória da Rússia como celebração realmente histórica da vitória sobre a Alemanha nazista. O desfile – o mais bonito que já vi (infelizmente, só por vídeo, não pessoalmente) – foi soberbo, e pela primeira vez incluiu o Exército Chinês de Libertação Popular. Não há dúvida de que vimos ali a história, enquanto se ia escrevendo. Mas aconteceu outra coisa hoje, também absolutamente extraordinária: o Ministro da Defesa da Rússia, Sergey Shoigu, fez o sinal da Cruz (foto), antes do início das celebrações. (...) Significa que Shoigu converteu-se à religião ortodoxa russa? Não necessariamente. O budismo é muito aberto a todas as outras religiões e não vejo contradição alguma no gesto do ministro."


O fato de o primeiro alto membro do governo russo a iniciar o desfile do Dia da Vitória fazendo o sinal da Cruz e pedindo a ajuda de Deus ser budista é, em si mesmo, evento extraordinário (e cobre de vergonha os seus predecessores declarados oficialmente "ortodoxos", que nunca fizeram coisa semelhante).

Só imagino o horror, o escândalo, o desespero que o gesto de Shoigu está provocando na "inteligência" liberal russa pró-EUA e nas capitais ocidentais. Ao pôr-se, pessoalmente e toda a Rússia, nas mãos de Deus, Shoigu declarou guerra espiritual, cultural e civilizacional contra o Império. Só por isso, já entrou para a história como um dos maiores homens da Rússia." (Em "Implicações dos novos sistemas de armas da Rússia", 5/3/2018, Andrei Martyanov, Unz Review).
** Tradução ru.-ing. de Scott Humor, aqui retraduzida [NTs ao português].

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